Os 110 anos
do empresário João Paulo de Souza impressionam tanto quanto a sua história ou o
cortejo quilométrico formado em seu velório. De pescador artesanal a dono da
rede de lojas Armazém Pará, foram anos de muita areia de praia percorrida.
João Paulo
de Souza nasceu em 16 de junho de 1902. Seguiu o ofício do pai e se fez
pescador ainda criança. O mar de Muriú era sua segunda casa. Foram décadas de
atividades, dias em alto mar. Era o que restava naquelas terras longíquas, no
início do século passado.
Sem
estradas, com pouquíssimos meios de locomoção restritos aos mais abastados,
João Paulo de Souza fazia "o impossível" para vender o produto do seu
trabalho: transportava a pé o seus peixes de Muriú até a praia da Redinha.
"Ele fazia isso duas a três vezes por semana", conta o neto do
ex-pescador, Júlio Cesar Souza, 55.
Alguns anos
depois, João Paulo casou. Foi morar com a mulher na Redinha, e tornar a vida
mais fácil. Montou um pequeno ponto de vendas onde hoje funciona o Mercado da
Redinha. Poucos anos depois, se mudou para o bairro das Rocas. Foi lá onde se
iniciou no comércio mais formal, quando montou uma mercearia na rua São João.
Em 1959,
nasceu a Importadora Comercial de Madeiras Ltda, com o nome fantasia de Armazém
Pará. A iniciativa foi do comerciante Pedro Câmara de Souza, filho de João
Paulo, que se tornaria sócio logo em seguia. A primeira loja do Armazém Pará
ficava localizada na Rua Almino Afonso, na Ribeira. Na mesma Ribeira, veio a
Casa do Construtor - uma espécie de filial - onde hoje se encontra a Casa da
Ribeira, na Frei Miguelinho. Hoje são três grandes lojas e mais uma empresa
voltada ao atacado, em Parnamirim.
João Paulo
contava nesta época quase 60 anos. O sucesso com o comércio poderia ser uma
aposentadoria tranquila para o sexagenário já cansado de tantas batalhas. Mas
João Paulo cumpriu expediente normal, diário, até os 93 anos. "Isso porque
ele levou uma queda, fraturou o fêmur e passou a 'apenas' visitar o Armazém
Pará todo dia, mais para supervisionar as atividades", disse o neto. E
entre uma supervisão e outra foram mais 9 anos.
"Até
os 102 anos ele compareceu todos os dias ao Armazém Pará. Depois as visitas
ficaram mais esporádicas. E nos últimos dois anos deixou de ir porque começaram
os problemas de saúde". O neto Júlio César contou ainda que neste período
a família montou uma home care para atendimento 24 horas para o patriarca.
No último
domingo (16), João Paulo de Souza, já com a saúde debilitada, foi acometido de
uma gripe, que se transformou em pneumonia e agravou o quadro. "Até que
ontem (20), ele apagou", disse o neto. Júlio César conta que o avô sempre
manteve alimentação balanceada, nunca ingeriu bebida alcoolica nem fumou
"Só veio beber um copo de refrigerante aos 55 anos, e só essa vez". E
aliado à atividade de pescador quando mais jovem, disse o neto, foram os
segredos da longevidade.
O enterro
do empresário João Paulo de Souza aconteceu no Cemitério Parque da Passagem, em
Nova Descoberta, também nesta sexta-feira (21).
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